Imperador,
nome de árvore
Texto
de Pedro Foyos, jornalista e historiador português.
O
passado está sempre a ser necessário para explicar o presente
e
o todo para explicar a parte.
Edward
Burnett Tylor (1832-1917)
Começando
pelo primeiro dia. Nesse dia fiquei sabendo que uma árvore
brasileira, quase extinta, conhecida há duzentos anos pelo nome de
Guapeba, possuía na atualidade a aristocrática
designação científica de Chrysophyllum imperiale. Parte
desse dia o passei na companhia de uma notável personalidade da
Botânica portuguesa que me
honra com sua estima, a diretora do Jardim-Museu Agrícola Tropical
(uma instituição um tanto ignorada mas de que deveriam se orgulhar
os lisboetas). Ao entrar nesse deslumbrante
Jardim Tropical, o meu conhecimento se encontrava limitado a
imprecisas referências históricas, a mais interessante das quais
consistia no indício de ter sido esta a “árvore dos imperadores
brasileiros, Pedro I e Pedro II”. Muito me intrigou o fato de,
sendo isso verdade, estar agora a Guapeba na “Red List” das
organizações internacionais superintendentes
nas questões preservacionistas,
com realce para a International Union for Conservation of Nature /
IUCN que lhe confere um dos mais elevados graus de perigo de
extinção. Tive então acesso a grande número de publicações
científicas que fui destrinçando
auxiliado pelas sábias explicações da diretora anfitriã.
Obtive um “retrato de corpo inteiro” da árvore no volume das
Sapotáceas na monumental
obra “Flora Neotropica” e no vetusto
Dicionário de Pio Corrêa. Dezenas de livros “especializados”
ignoravam a espécie. Me apercebi que, bibliograficamente, ela se
encontrava também quase extinta. Mas saí do Jardim-Museu com
extensas notas interrogativas que, numa perspetiva
historica e jornalistica, me pareceram promissoras. Trazia comigo,
também, a mágoa de ter ficado consciente de uma injustiça: a mais
recente designação científica da “árvore dos imperadores”
esqueceu, lamentavelmente, o nome de Karl von Martius: o género
Martiusella (anterior identidade botânica da Guapeba) havia sido, de
fato, uma homenagem de outros dois grandes botânicos, primeiro Jean
Jules Linden e depois Jean Baptiste Louis Pierre, prestada ao
cientista austro-bávaro. Eles saberiam certamente que esta árvore
teve um significado especial para Martius, porventura
mais que suas queridas palmeiras. Não qualquer espécie: exatamente
esta, depois denominada imperialis e imperiale, numa
associação óbvia aos dois imperadores que apoiaram sua prolífica
carreira científica e em particular, em relação ao segundo, a
imensa «Flora Brasiliensis», com vinte mil (!) plantas
meticulosamente estudadas e classificadas. (Em rigor, Pedro I
prometeu mais que deu, mas… enfim, sabemos que ele andava por esses
dias absorvido com a
independência do Brasil).
A
“árvore dos imperadores” havia também sofrido – estava
entendendo agora – a inconstância
dos botânicos. De Theophrasta passara a Martiusella, depois virara
Chrysophyllum (um nome que já escrevi centos de vezes e sempre o
fico mirando na incerteza da grafia correta).
No
final de minha visita ao Jardim-Museu Tropical de Lisboa, meu saldo
investigativo era, porém, aliciante:
de fato esta bela árvore se atravessara (é um modo de dizer) no
caminho de três homens: dois imperadores brasileiros e um botânico
austro-bávaro.
Referência
acesso
em 18/09/2012 horário 14h
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